sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Entrevista a Cláudio Fragata (parte 1)

Vamos dar início à publicação da entrevista realizada por:

alunos da turma C do 5.º ano e da turma B do 6.º ano da Escola E.B. 2/3 Dr. Carlos Pinto Ferreira, Junqueira, Vila do Conde, Portugal
: Ana Isabel, Ana Rita, Ana Sofia, André, Beatriz, Carla, Carlos Filipe, Catarina, Daniela, Fábio, Flávia, João, Jonathan, Márcia, Maria Arminda, Maria Luísa, Noé, Nuno, Pedro; Rafaela, Renato, Ricardo, Roberto e Rui; Catarina, David, Diana, Eugénio, Fábio, Fátima, Filipe, Guilherme, João, Paulo, Pedro, Rafaela, Rodrigo e Teresa;
alunos da turma A do 6.º ano do Lycée International de Saint Germain-en-Laye, France: Yolène, Florian,
Alice, Kevin, Loïc, David, Maxime, Daniela, Micaella, André, Edouard, Victória, Elisia, Carolina, Clara, Rajiv, Hugo, Thomas.
alunos da turma 8ª série do Colégio Estadual Pe. Colbachini, Nova Bassano: Adilson, André, Ariane, Daniel, Edson, Émerson, Émerson, Felipe, Felipe Giciele, Guilherme, Joel, Juliana, Jussara, Karine, Luana, Luana Maria Lucas, Magaiver, Maicon, Marcelo, Marcos, Maricelso, Mateus, Michele, Micheli, Rogério, Roni, Valdinei, Willian;

alunos da turma 4002 do Colégio Estadual Dr Álvaro Rocha, Barra de Piraí: Ana Vieira, Brenda Pereira, Fabiane Jovêncio, Flori Junior, Gabrielle Ramos, Iuri Pires, Jamille Guimarães, Jeniffer Souza, João Lopes, Larissa Silva, Lucas Martins, Mariana Barbosa, Mariana Pinto, Matheus Paula, Nathani Rosa, Patrick Souza, Poliana Pereira, Raonni Moraes, Rayla Barros, Rayson Slivano, Rhaonne Pinto, Sebastião Santos, Matheus Silva, Dhébora Silva;

À volta da vida, da família, da escola…

- Onde nasceu?
Nasci em Marília, uma cidade do interior de São Paulo. Engraçado que Marília é o nome da pergonagem de um famoso livro-poema, Marília de Dirceu, escrito por Tomás Antônio Gonzaga, um poeta brasileiro do século 18. Marília e Dirceu são uma espécie de Romeu e Julieta aqui para nós. Com isso, quero dizer que a literatura esteve comigo desde o início, já no nome da cidade em que nasci.
- Que idade tem?
Acabo de fazer 55 anos. É uma idade muito agradável, podem acreditar.
- Em que dia faz anos?
No dia 25 de novembro. Sou de Sagitário com ascendente em Aquário. No zodíaco chinês sou Dragão.
- Onde vive?
Vivo em São Paulo. Gosto muito da agitação da cidade grande. Saí de Marília aos 17 anos e não voltei mais. Ou melhor, voltei em 2006, quase quarenta anos depois. Foi uma redescoberta de mim mesmo. Acabei descobrindo que jamais havia deixado Marília. Muito bem fez o poeta Fernando Pessoa em cantar o rio de sua aldeia. Nossa cidade natal é uma espécie de porto para onde podemos voltar sempre que o mundo pareça grande demais.
- Lemos na sua biografia do site netescrita que, quando tinha três anos, pensava muito. Em que pensava?
Em muitas coisas. Em quem fabricava o dia e a noite. De onde vinham as flores. O que faziam as coisas quando a gente não estava olhando para elas. Por qual razão não tínhamos asas. Eu achava esse acessório indispensável. Como os homens podiam se considerar tão superiores aos outros animais se nem sequer tinham asas? Esse pensamento me fazia achar uma borboleta ou uma mosca de frutas um ser muito mais desenvolvido do que o homem. Eu me lembro de ter descoberto também por essa época que eu era um ser vivo e que meu corpo ocupava um lugar no espaço. Essa descoberta me encheu de espanto. Todos esses pensamentos acabavam virando material para histórias que eu inventava o tempo todo para mim mesmo.
- Nessa mesma biografia disse que seu lugar predilecto para pensar era um degrau da escada que ligava os dois andares do apartamento. Porquê esse lugar?
Penso que por ser exatamente um lugar intermediário, onde as pessoas grandes não me atrapalhavam. As pessoas grandes atrapalham muito os nossos pensamentos quando somos pequenos.
- Lemos também que os adultos diziam que as histórias que escrevia em pequenino eram rabiscos. O Cláudio percebia isto e achava que esses adultos não sabiam ler. O que pensava então dos adultos?
Acho que o mesmo que penso agora. Que eram uns chatos, sempre achando que sabiam tudo e sempre prontos para dizer o que se deve ou não se deve fazer.
- Era o Cláudio que imaginava as suas histórias, quando era pequeno mas na sua folha escrevia só rabiscos… por isso é que dizia que os adultos não sabiam ler?
Exatamente. Para mim, não eram rabiscos.Como é que tinha tanta imaginação aos três anos?Talvez todos tenham muita imaginação aos três anos. Com vocês não era assim?
- O Cláudio era endiabrado? (Nós somos!)
Sim e não. Isso de ser muito fantasioso, pensativo e encimesmado mantinha-me um bom tempo quieto. O problema era quando eu punha em prática o que pensava, como daquela vez descrita em Seis Tombos e Um Pulinho, quando quis me jogar da janela pendurado a um guarda-chuva.
- A sua mãe tinha medo, ou não gostava de animais?
Minha mãe sempre gostou de animais, mas não de sapos. Uma vez, acompanhei meu pai a uma pescaria e voltei com um cesto cheio de pequenas rãs. Eram dezenas! Coloquei todas elas na banheira, onde tentei recriar seu habitat com água, plantas e pedras. Quando minha mãe foi banhar-se, deu um grito. Só voltou a entrar no banheiro depois de me obrigar a transportar minhas rãs para o tanque do
quintal.
- Gostava muito de passear com o seu pai?
Era um dos momentos mais felizes da minha vida quando saíamos, só ele e eu. Meu pai tinha o hábito de me levar ao cinema toda tarde de sábado. Ria muito comigo assistindo Tom e Jerry e antigas comédias do cinema mudo, como as de Chaplin e os Irmãos Marx. Eu adorava segurar em sua mão ou então quando ele me levava ao colo. Nessa hora, sentia-me com superpoderes, como se nada nesse mundo pudesse me atingir ou fazer mal.
- Seu pai dizia que na foto (quando era jovem) tinha algo de Truman Capote. Porquê?
Penso que fosse por causa de traços físicos, embora o Truman Capote fosse baixinho e eu já tivesse então o meu 1, 75 metro de altura, e mais, talvez, pela rebeldia que as fotos do escritor quando jovem passavam.
- Ainda se lembra do abraço do seu pai quando tiveram o acidente?
Como se tivesse acabado de acontecer. Não esquecerei nunca.
- Por que é que esteve tanto tempo separado de seu pai?
Não ficamos separados fisicamente. Eu é que fui um jovem rebelde e arredio. Esse tipo de separação, que acontece dentro da mesma casa, é ainda pior.
- O seu irmão ensinou-o a ler?
Todos em casa deram uma forcinha, mas eu, sobretudo, queria muito aprender. Tinha muita vontade de ler os livros da biblioteca e as revistas em quadrinhos que meu irmão colecionava.
- Com quantos anos fez a primeira comunhão?
Penso que devia ter uns oito anos.
- Depois dos 6 anos, para onde foi morar?
Minha história é cheia de vai-e-vem. Nasci em Marília e poucos meses depois minha família se mudou para São Paulo. Quando tinha seis anos, voltamos para Marília e lá fui morar numa fazenda, com muitos bichos e imensos cafezais. Todos os dias eu vivia uma aventura diferente. Acho que todo mundo deveria morar numa fazenda quando fosse criança. A gente aprende muita coisa com os rios, as pedras, as cachoeiras, os animais, a natureza. Morei em Marília até os 17 anos. Aí, resolvi encarar a cidade grande.
- Quantos anos tinha quando teve o acidente no canto do olho?
Tinha cinco anos. O susto foi tão grande que me lembro de tudo o que aconteceu.
- A Irmã Agatônica era sua amiga?
Não chegava a ser exatamente uma amiga. Era a minha professora de catecismo, uma mulher muito boa e paciente. Mas as coisas da Igreja Católica me enchiam de horror e medo. Por causa disso, às vezes, eu me punha a rir sem motivo e o riso acabava por contagiar todas as crianças, o que deixava Irmã Agatônica sem saber o que fazer. Nós também a apelidamos de Irmã “Água Tônica”, o que era motivo de muito riso secreto dentro da sacristia.
- Onde estudou e até que ano de escolaridade?
Minha educação dividiu-se entre Marília e São Paulo. Meus primeiros anos escolares foram em escolas públicas, que eram muito boas no Brasil daquela época, hoje já não são mais. Aprendíamos, entre outras coisas, francês e inglês, mas eu adorava mesmo as aulas de redação e desenho.
- Na escola básica, qual era a sua disciplina favorita?
Como eu disse na resposta anterior, era a aula de redação. Adorava quando o professor punha uma gravura na nossa frente e pedia para que inventássemos uma história a partir dela. Penso que por isso o meu texto é muito “visual”, os leitores sempre me dizem que conseguem “ver” as cenas descritas em meus livros.
- Era bom aluno na escola?
Era, tirava boas notas, mas não era exatamente estudioso. Gostava mais de ler livros de histórias e brincar com meus cachorros.
- Tem filhos? Se sim, quantos tem?
Não tenho filhos. Mas tenho milhares de “filhos” leitores de meus livros. Acho que está bem bom assim.



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